16 de setembro de 2013

Rebelde com causa: Mel Fronckowiak lança seu primeiro livro.

 Namorada de Rodrigo Santoro, Mel Fronckowiack, lança livo no Rio

A fila dá voltas na entrada da livraria em um shopping na zona sul do Rio. Seguranças tentam organizar as duas centenas de adolescentes, que esperam há horas naquele frenesi típico de fãs. Isabela Alves, 15, saiu de Duque de Caxias, na região metropolitana, às 10h30. Sete horas depois, conseguiria a dedicatória no livro “Inclassificável – Memórias da Estrada”.

“Leia sempre”, escreveu a autora Mel Fronckowiak, 25. Em sua obra de estreia, a atriz e cantora teve lançamento de estrela das letras, graças à fama de ex-integrante do grupo musical Rebelde e protagonista da novela homônima da Record, exibida até 2012.

Na dedicatória à repórter Eliane Trindade, a ex-estudante de jornalismo escreveu: “É muito bom reconhecer outras apaixonadas por palavras”. Já a paixão pelo ator Rodrigo Santoro, ela deixa menos explícita. Os dois se conheceram na pré-estreia do longa “Heleno”, protagonizado por ele, e estão juntos desde junho do ano passado.

O namorado causa alvoroço, mas nada comparado à comoção na chegada de Mel, de vestido longo floral e bolsa Prada. Santoro passa no caixa, compra dois exemplares e é levado para um reservado, onde ela recebe os íntimos. O casal troca carinhos tímidos e posa para fotos. “Vou ler hoje à noite”, diz ele.

Sobre a relação, o ator sai pela tangente: “Já estamos tão expostos… Essa parte da vida é pra gente. É privada”. E brinca sobre o que será escrito nesta reportagem: “Cuide bem dela”. A mãe, a irmã e a sobrinha de Santoro também estão lá. A pequena Laura leva de presente o cachorrinho de pelúcia que a tia Mel acabara de ganhar de uma fã.

O discurso de ambos está afiado. “Eu já me sinto muito exposta escrevendo”, afirma ela. “Estou realizando um sonho profissional. Pessoalmente, também estou feliz.”

O fato de ter conquistado o astro em ascensão em Hollywood não intimida a gaúcha. “Em casa, a gente não é nome e sobrenome.” Os dois já entraram na mira dos paparazzi no Rio e em Los Angeles, onde ele passa temporadas.

“Ela é mais do que a namorada do Rodrigo Santoro”, diz, enfática, Maíra Santos, 16, que faz parte de fã-clube de Mel. As vendas do livro da ex-Rebelde é termômetro de uma febre construída e alimentada por uma máquina televisiva e de shows nos moldes da matriz mexicana. Cerca de 4.000 exemplares saíram logo na pré-venda pela internet. Uma segunda tiragem de 5.000 foi feita às pressas.

Com 1,1 milhão de seguidores no Twitter, Mel arrisca-se na literatura, após o fim do contrato com a Record. Diz “ser especulação” sua ida para a Globo. Quando indagam se é atriz, responde: “Fui, por um tempo”. É cantora? “Fui cantante.” E escritora? “Não sei, mas escrevi um livro e estou oferecendo ao público.”

A obra chegou ao prelo por vias tortas. “Uma grande editora se negou a publicar. Disseram: ‘Olha, é bacana, mas é difícil de classificar’”, conta Mel. A negativa inspirou o amigo Pedro Cézar, cineasta, poeta e surfista, como se apresenta na orelha do livro, a sugerir o título “Inclassificável”. Uma editora embrionária, a Rubra, resolveu lançá-la como primeira autora do selo.

Mel admite que sua escrita precisa amadurecer. “Eu sei o meu tamanho. Quero escrever coisas densas, quem sabe um dia um romance. É um primeiro passo.”

Nádia Bambirra, assistente de direção da Record, ajudou a ex-pupila a engatinhar na nova carreira. “Mel se dizia triste, vazia por causa da fama. Não sabia o que fazer com o fim da banda.” Lançou um jogo no Twitter, Caçadora de Palavras. “É uma brincadeira de sugerir autor ou tema a cada semana no meu perfil.” E se empolga com a frase de uma garota que venceu um dos concursos: “Saudade é a fome do coração”.

Para se expressar em 140 caracteres, inspira-se nos haicais japoneses. Um de sua lavra é: “Amar-te é pouco. Minha ideia é ser-te”. Em 96 páginas, o livro é um relato adocicado de sensações dos tempos de Rebelde (leia trecho acima). “Tive que arrumar uma forma de não enlouquecer”, explica ela, sobre os diários de uma maratona que durou dos seus 22 aos 24 anos.

Casa e estrada se confundiam. “Era o tempo todo hotel, ônibus, avião.” Além de shows de sexta a domingo, gravava de segunda a quinta. “Foi um período em que remédios para dormir e remédios para ficar acordados faziam parte da nossa dieta”, escreve. “A solidão mora ao lado do caos”, prossegue em outro trecho. Mas o livro passa longe de revelar bastidores da fama.

Antes de ”Rebelde”, a morena de 1m74 apostou na carreira de modelo, com apoio da mãe psicóloga. Aos 19 anos, trancou a faculdade e trocou Pelotas (RS) por SP. Entrou para a Ford Models. “Não era modelo de passarela. Fiz bons trabalhos de publicidade.”

Um deles a deixa desconfortável. Em 2008, ganhou o título de “o bumbum mais bonito do mundo”. “Era um concurso em Paris para escolher a garota-propaganda de uma marca de lingerie”, explica. “No Brasil, mudou de ótica.” Passou no teste para a novela e a banda dois anos depois.

Os atributos que quer evidenciar são intelectuais. Os físicos estão camuflados em vestidos longos e soltos, opção invariável nas sessões de autógrafo. Mel cita Sartre e clássicos que embalaram a adolescência. “Tive um encontro com Fernando Sabino e outro com Kundera [Milan].”

“Ela inspira a gente”, derrete-se a fã Isabela. “É um orgulho ela virar escritora. Tive medo de que sumisse com o fim do grupo.” A garota postou foto no Instagram com sua “autora preferida”. “Os fãs vão ler meu livro e podem descobrir outros autores. Ninguém começa lendo Clarice Lispector”, diz Mel. Leitora voraz, a obra que está na sua cabeceira hoje é “Coisas da Vida”, de Martha Medeiros.

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Fonte: Mundo Fronckowiak

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